Quando escutar faz a diferença: aluno do Colégio Pentágono obtém nota 1000 na redação do ENEM
Nem todos que ouvem escutam. Este clichê, tão usado na educação, identifica a existência daqueles alunos que, embora possam contar com perfeita audição, não absorvem e elaboram o que lhes chega aos ouvidos. Como vivemos uma época na qual a rotina comprime o tempo e turva os sentidos, não é raro encontrar estudantes que, na ansiedade de apreender o máximo, permanecem apenas com o mínimo. Presenciamos, especialmente nas séries mais próximas aos exames vestibulares, a era da quantidade, não da qualidade. E, quando o aprendizado se transforma em mero hábito, deixamos, de fato, de aprender. O professor pode falar o mais alto que puder: ainda que possa ser ouvido claramente, já se terá feito inaudível.
Rodrigo Rache de Andrade nasceu com dificuldades auditivas. Quando entrou no Colégio Pentágono, ainda no Maternal, passou a contar com a ajuda de profissionais qualificados para ajudá-lo a superar as dificuldades. Sentando-se próximo de seus professores e sempre utilizando um aparelho que lhe possibilitava ouvir melhor, Rodrigo – com esforço inigualável – foi avançando série a série, até chegar à implacável 3a série do Ensino Médio. Somente aí, passou a utilizar uma tecnologia diferente – a frequência modular – composta por duas partes, uma com o aluno, e outra com o professor. Rodrigo poderia agora ouvir com muito mais clareza. A partir de então, já acostumado ao rigoroso e bem-sucedido sistema de produção de textos do Pentágono – com a confecção de quase noventa redações ao longo só do Ensino Médio –, sua escrita, que já era boa, começou a se destacar. O garoto queria se fazer ouvido – e escutado.
Era já uma história que valeria a pena ser contada.
Mas Rodrigo ainda não se dava por satisfeito. Com a determinação daqueles que valorizam, com carinho, cada palavra de seus professores, viu suas notas subirem e seus obstáculos – muito maiores que os de qualquer colega – ficarem para trás. Já considerado uma daquelas pessoas únicas que jamais se acomodam, um ponto fora da curva, um contrariador de estatísticas, Rodrigo foi além: das cerca de seis milhões de pessoas que escreveram uma redação no ENEM 2016, ele foi uma das 77 – setenta e sete! – que tiraram 1000, a nota máxima.
Hoje, no Brasil, pouco mais de 1% da população sofre com alguma deficiência auditiva. Rodrigo poderia ter se contentado em ser parte somente dessa rara exceção. Mas preferiu participar de uma ainda menor: a dos 0,1% a conseguirem a redação considerada perfeita.
Eis a lição que dá a todos nós, educadores e alunos: quando ouvir é um privilégio, escutar não pode ser uma só uma opção. Por isso, Rodrigo deixa no Pentágono muito mais do que uma nota; deixa o legado dos que se esforçam, dos que não se satisfazem com pouco. O legado, enfim, dos que escutam.
Bruno Alvarez
Coordenador de Língua Portuguesa do Colégio Pentágono